Lampirônicos

 

A primeira apresentação da Lampirônicos foi no Julho em Salvador de 1998, ainda com a formação antiga de Roberto Barreto (guitarra baiana), Ordep (bateria) e Bau (guitarra). O grupo fez mais algumas apresentações, mas a banda ainda não tinha tomado um rumo e 1999 foi um ano muito confuso: os membros não perderam contato, mas também não trabalharam na banda, por conta de outras preocupações.

2000 foi o ano que as coisas começaram a acontecer, quando saíram alguns membros da banda - que foram substituídos por Nikima (no vocal), Luciano (baixo) e Robson (percussão) - que reformou um espaço em Ondina, onde montaram um escritório e o estúdio onde ensaiam. Esta segunda fase do trabalho começou há um ano e meio.

A percepção da banda como um grupo que mistura forró e rock é a associação mais imediata, mas que não dá conta do som ou da proposta da banda. "Na verdade é uma influência nordestina muito forte, um trabalho de pesquisa com o ritmos e origens nordestinas", diz Roberto. Isso se traduz sonoramente como a integração de instrumentos como a zabumba e de células de baião e xote. O resultado dessa pesquisa é uma base rítmica que integra baterias e linhas de baixo que beiram o eletrônico e incorporam as batidas nordestinas. Além das guitarras pesadas, que remetem ao rock, e elementos eletrônicos com samples e teclados.

Essa mistura não é feita a partir do nada. Para fazer esse som, que a banda procura desde a sua formação, Roberto conta que é necessário "ouvir os pioneiros de cada estilo e selecionar o que combina com o som que o grupo quer", além de ficar atento a elementos aparentemente díspares que podem colaborar para a sonoridade procurada, como bandas de música eletrônica como Sublime e Prodigy.

As coisas têm acontecido de forma muito rápida, passando um ano da primeira apresentação ao disco pronto. Da primeira temporada numa casa noturna na cidade, a banda partiu para shows em cidades do interior durante o São João, por convite das prefeituras. A partir daí, veio o convite para gravar.

"Foi tudo muito rápido, mas uma coisa que as pessoas não vêem, é que nos estamos trabalhando todos os dias. A banda foi, aos poucos, saindo de suas outras atividades para se dedicar ao grupo", conta Roberto, que acha que essa rapidez não subiu à cabeça, mas fez banda trabalhar mais.

A segunda formação da banda - e as novas idéias trazidas pelos membros - permitiu que as idéias amadurecessem e tomassem forma. O trabalho foi intenso e rendeu resultados: já no ano passado, o grupo recebeu uma proposta da Sony Music para gravar um disco, que já está pronto para ser lançado em agosto. O disco foi produzido por Paulo Rafael, produtor de Alceu Valença, com colaboração de Carlinhos Brown, que co-produziu quatro faixas.

O processo de pré-produção do disco e a escolha do repertório começou em julho passado, quando a banda começou a gravar ensaios e bases e enviar para o produtor no Rio de Janeiro. Isso se traduziu num trabalho de apenas três meses no estúdio e em apenas uma música que ficou de fora do disco, sobre a qual Roberto diz que "havia dúvidas desde o início".


"A Bahia é um pouco dissociada do Nordeste, como se houvesse um Nordeste daqui pra cima e o estado tivesse uma outra formação musical", acredita Roberto. Mas a formação nordestina está presente na Bahia e nos membros da banda. "Nosso desejo é tornar essas informações mais universais, fazendo a mistura, a fusão que é tão contemporânea." O objetivo - que orientou a feitura do disco - é trazer essas influências para o ambiente cultural brasileiro.

Essa preocupação orienta também a identidade visual da banda, do figurino ao material de divulgação, ao apropriar elementos nordestinos sem cair no óbvio ou na caricatura. "Nós comunicamos aos envolvidos o que nós queremos, como vai estar o palco, como vai ser o clipe, o que queremos comunicar visualmente, como queremos nos apresentar..." A partir disso, tanto a figurinista Letícia Diniz quanto o diretor de arte André Santana elaboram seu - que acompanha a banda desde a primeira demo - trabalhos.

Roberto acredita que a chamada Indústria do Carnaval foi importante para que bandas como a Lampirônicos e artistas como Rebeca Matta despontassem nacionalmente, ao permitir uma profissionalização dos produtores e artistas locais. "A superexposição imposta pelos próprios produtores saturou o mercado", diz ele, que acredita que, neste momento, há uma efervescência cultural na Bahia, possibilitada também pelo vácuo deixado pelo fim do ciclo do Axé.

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