Como o senhor avalia a abertura do SBPC?
Pensando que a cidade está vivendo esse momento difícil,
eu vejo isso aqui com uma força muito grande. A presença
de mil e quinhentas pessoas nessas condições equivale
a três mil, quatro mil pessoas em situações
normais. Então só a participação de
mil e quinhentas pessoas já é um indicador da força
do que se está fazendo aqui. Por outro lado, estamos vendo
a homenagem a uma
cientista baiana, da UFBA, pela sociedade brasileira, estamos vendo
gritos por democracia, estamos vendo atividades artísticas
envolvidas nisso tudo. Estou muito contente com o que está
acontecendo e com a pluralidade do discurso, das pesquisas, e estou
aqui para ver como isso se desenvolve e para participar.
Esse ano o SBPC está acontecendo em Salvador, num momento
em que a cidade vive uma situação muito grave. Como
fica essa relação? É uma oportunidade da Academia
se manifestar em relação à realidade, já
que há sempre tantas críticas ao seu distanciamento
nesse sentido?
A situação foi tão dramática na cidade
que talvez tenha até extrapolado um pouco a possibilidade
de diálogo, de discurso, mas acho que agora que está
começando - a gente espera - a retornar. Acho que ficou claro
para todo mundo que a sociedade é sustentada por forças
que normalmente nos acostumamos a não ver no cotidiano. Quando
acontece isso, a gente vê que a sociedade precisa de soluções
urgentes, e aí está um desafio para todo mundo que
se diz cientista ou amigo da ciência, do que se está
fazendo nessa direção. Que respostas a Universidade
pode dar, todas as Universidades? Mas na hora da crise mesmo eu
acho que não ajuda, é tão gritante que todo
mundo quer se proteger e a gente parte quase para uma barbárie.
E a programação continua a mesma ou há
alguma alteração em função desses acontecimentos?
Tudo que trabalhamos está mantido, mas estamos ao mesmo tempo
sabendo que algumas coisas não vão poder acontecer
porque implicam no deslocamento de pessoas. Por exemplo, nossa programação
está muito baseada na programação de grupos
de comunidades, de adolescentes, de movimentos artísticos
de comunidades, e isso até o momento está sendo muito
difícil, então vamos avaliar. Até aqui fizemos
tudo que tínhamos planejado, vamos ver amanhã como
isso vai transcorrer.
|