O circo vai pegar fogo. O aviso foi dado ainda do lado de fora do Circo Araçá Azul, pelos atores da Oficina Literária da Escola de Letras da Ufba. O Dragão acabara de chegar com seu cortejo, acompanhado de perto pelo Microtrio, e a multidão que o seguia se juntou às pessoas que já aguardavam curiosas o que se escondia por debaixo daquela lona azul erguida ao lado do Banco do Brasil, no Campus de Ondina.

O ritual do fogo era apenas um presságio do que ainda estava por vir. Nem mesmo ilustres (?) personalidades da política brasileira, como o ex-senador baiano Antônio Carlos Magalhães, e o presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, escaparam das chamas que ardiam na areia. Tudo foi queimado, e nem mesmo as palavras foram poupadas. Para que palavras? Só restou a festa. A farra após um longo dia de discussões e palestras científicas: do ofício ao ócio, e bem vindo seja o Dragão.

Faltou espaço para tanta gente. Estudantes de todos os cantos do país se contorciam para assistir de perto o Grupo De Mente, os humorados mestres de cerimônia do dia inaugural da tenda de milagres. Eles realmente agitaram, e, com muito talento e sacanagem, não pouparam nem o varredor do palco, que foi obrigado a entrar em cena ao som de Tito Bahiense, a grande atração da noite circense. “Gente da terra varrendo a própria terra”, dizia um dos sete componentes do grupo.

Também lançaram uma enquête. Perguntaram ao público quais são os três ingredientes básicos para uma boa miscelânea sexual. As respostas foram diversas (se você tem uma, por favor, não nos deixe de enviar por e-mail). Um pernambucano alegou que só precisava do melhor amigo, da namorada do melhor amigo e da mão do melhor amigo. Um baiano, menos lascivo, preferiu cerveja, camisinha e, “no meu caso particular”, mulher.

Foi uma festa só. Todas as naturalidades e tribos riam com aquelas palhaçadas. Tito Bahiense deu tempero ao céu azul da lona e fez um pequeno show unpluged. Ele, que
começou com back vocal de Ivete Sangalo na banda Eva, cantou composições próprias dos shows “Eu, vocês e João” e “O enterro do samba ou vamos agora pra massa”. O homem
ganhou o coração dos pernambucanos, os mais agitados e, pelo menos entre os vindos de fora, mais presentes em todo o evento (tanto no ócio quanto no ofício). “O SBPC Cultural é uma ótima oportunidade para reunir os universitários e para os artistas mostrarem seu
trabalho”, disse, diplomático, o Tito.

O grupo de dança His subiu ao palco ao lado de Tito, numa verdadeira miscelânea, conforme sugeria a noite. Pena que ninguém entendeu muita coisa. Bom, mas valeu a iniciativa. O grupo Urbanas, uma versão soteropolitana das Spice Girls, também cantou ao lado de Tito. “Legal voltar à faculdade. Fomos estudantes de dança da Ufba, e eu participei de um SBPC em Belo Horizonte. É muito legal”, se exaltou uma das integrantes do charmoso trio, Sissy de Melo.

Quem deixou o picadeiro por último foi a Sucatamania do Grupo Cultural Bagunçaço dos Alagados. O público já não era o mesmo (a essa altura o barzinho montado do lado de fora estava mais movimentado que o Circo, com dança de quadrilha e tudo mais), porém os que ficaram até o final gostaram do swing dos meninos. “Pô, vê se sai o meu nome na matéria viu?”, pediu o líder da Bagunçara, Fábio Santos. Pronto Fábio, pedido atendido!

Atração faltou por motivos de saúde

Entre as atrações programadas para se apresentariam hoje (14/07), no Circo Araçá Azul, a cantora Clécia Queiroz não compareceu por motivos de saúde. Ela cantaria com o músico Luciano Bahia na “Noite da Miscelânea”. A Sucatamania do Grupo Cultural Bagunçara faria uma miscelânea com Clécia, mas tiveram que fechar a primeira noite circense do SBPC Cultural sozinhos.

Amanhã (15/07) será a “Noite do Folclore”, que não terá mais como animadores os garotos do excelente Grupo De Mente. Se apresentarão As Radiantes, Palhaços para Sempre, Coração de Genipapo, Por Favor, Paquito e Banda, Impulso Artístico, Grupo Folclórico dos Correios, Grupo de Dança Nuancia e Barravento. A expectativa é que as atrações entrem em palco no horário previsto, ou seja, às 19h (hoje, houve um atraso de meia hora, graças ao atraso
do Dragão).

O Circo Araçá Azul é uma invenção baiana da reunião da SBPC de 1981, realizada em Salvador. O seu objetivo é mostrar as raízes culturais do estado. “Trata-se de um espaço multi-artístico, com teatro, música, dança e vídeo, tudo ao mesmo tempo”, explica o diretor Elísio Lopes Júnior.