Por
volta das nove e meia da manhã, apresentou-se no Palco Maracangalha
(Pavilhão de Aulas - Ondina) uma roda de Capoeira de Angola,
com o mestre Valmir Damasceno, representante da FICA (Fundação
Internacional de Capoeira de Angola) na Bahia. A FICA surgiu em 1994,
nos Estados Unidos, por iniciativa do mestre Cobra Mansa, o Cobrinha.
Na década de 80, Cobrinha, que é carioca, veio para
a Bahia junto com o mestre Moraes, com o qual fundou o Grupo de Capoeira
Angola Pelourinho. Depois de 15 anos, Valmir e Cobrinha deixaram o
grupo e surgiu a FICA.
A
Fundação se compõe hoje de uma média
de 300 pessoas e existe em alguns países, além dos
Estados Unidos e do Brasil. Valmir representa a FICA em Salvador,
que considera uma referência muito forte da capoeira no mundo,
além de coordenar os trabalhos do Rio de Janeiro e de Belo
Horizonte. Segundo Valmir, a proposta da fundação
hoje é manter, diante da internacionalização
da capoeira, um trabalho com a mesma visão, com o mesmo perfil,
com o objetivo de fortalecer a capoeira, respeitar todos os valores
e resgatar a capoeira dos antigos mestres. A cada ano há
um encontro de capoeira, com o objetivo de promover a integração
entre os participantes da FICA em vários lugares.
Atualmente,
o mestre Valmir desenvolve um trabalho na comunidade da Massaranduba
com crianças a partir dos seis anos de idade e dá
apoio a um grupo de capoeira da Ilha de Itaparica, na Gamboa. Também
dá aulas semanais de capoeira de angola a um grupo de crianças
do Engenho Velho da Federação. O grupo foi criado
por Bujarrão, estrangeiro residente na Bahia há cerca
de 15 anos. Segundo Valmir, O Engenho Velho é um lugar
periférico, em que a relação das crianças
com a marginalidade, a prostituição e o uso de drogas
é muito forte. Bujarrão reuniu essas crianças,
montou esse grupo e está ensinando capoeira, passando informações.
O que ele pretende - as pessoas começaram a perceber e apoiar
isso - é formar dentro do próprio bairro um centro
cultural. As aulas no Engenho Velho acontecem três vezes
por semana num terreiro de Candomblé, e o grupo não
recebe nenhum tipo de apoio institucional. No dia 7 de julho, quatro
crianças, numa faixa de 8 a 11 anos de idade, viajaram para
a França, para um encontro de capoeira. Não
tivemos nenhum apoio dos órgãos aqui de Salvador,
para dar um respaldo a essa criançada que foi representar
a capoeira não só da Bahia mas do Brasil. Quem bancou
foi o próprio governo francês e os pais dos alunos,
fazendo cotas para tirar os passaportes. Mais uma vez deixa a desejar
a participação das entidades no que diz respeito à
questão cultural.
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