A poética da cultura baiana


A terceira noite do SBPC Cultural foi encerrada com versos. O Circo Araçá Azul abriu a lona para os poetas e românticos na “Noite da Poesia”. Sorte dos enamorados, que já são muitos distribuídos pelas arquibancadas, com os corações apertados à medida que os dias passam. Mas a alegria toma conta dentro e fora do picadeiro, e a noite circense começou com uma saudação às caravanas vindas de todos os cantos do país.

Bahia, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte, São Paulo, Minas Gerais, Pará, Mato Grosso do Sul, Paraíba. O Circo é universal, como o riso. A cada estado citado pela apresentadora Zeca de Abreu, vestido de drag e com a generosa cintura exposta, os gritos ecoavam na pequena tenda dos milagres. É difícil competir com o Dragão do cortejo da democracia (cada dia mais festejado), por isso a animação dentro da lona é levada ao máximo da espontaneidade.

Afinal de contas, a arte não entra em greve. Lá estavam os atores do “Olho de Boi”, firmes na recepção do Dragão e da multidão fiel. Estava realmente demais! O Zambiapunga botou para quebrar com o Microtrio e ninguém queria sair da rua. Ficou o clima de quero mais. É, a arte não entra em greve, mas a greve atrapalha a arte. A “Cia de Canto” e o grupo de teatro “To de cara pra vida” não conseguiram chegar ao Campus de Ondina por falta de condução e foram as ausências da noite.

Entretanto, não faltou teatro no picadeiro. O grupo formado por trabalhadores dos Correios “Olho de Boi”, além de receber o Dragão, fez uma performance no palco do Circo Araçá Azul. “Apresentamos um fragmento do espetáculo ‘Mil e uma noites’, que exibimos de novembro a março deste ano no Teatro dos Correios”, contou o diretor do grupo, Celso Júnior. Eles provocaram o riso da platéia com a história, interpretada por sete atores, de um sujeito que morre na casa de um amigo e ninguém quer assumir a culpa.

Depois, foi a vez da dança, com o concurso (des) organizado pela apresentadora Zeca de Abreu. Foi o momento mais divertido da noite poética. Venceu um casal da Bahia, que competiu na final com outros dois de São Paulo e do Espírito Santo. Torcida não faltou para Pablo Sales, estudante de medicina da Bahiana, e Martina Barreto, aluna da Ufba, que mostraram movimentos dignos de bailarinos do balé russo mais puro sangue. “Que nada rapaz, foi mera pagação de mico”, rebateu Pablo. É, mas o concurso deveria ser anulado, pois a reportagem descobriu, das profundezas do jornalismo investigativo, que Martina faz dança. “Isso não conta. Eu e Pablo só dançamos juntos há cinco minutos”, se defendeu.

Chega de conversa. O excelente “Janela Brasileira” subiu ao palco após a “pagação de mico” e deu um show de música instrumental. Da Bahia para o restante do Brasil, presente ali, nos sorrisos generosos de toda aquela gente jovem espalhada pelas arquibancadas e sentadas na areia. A terra não é só do axé, denuncia o Circo. “Poxa, este evento é importante demais para trocarmos informações, idéias e, acima de tudo, cultura. Em oito anos de estrada, nunca tivemos uma oportunidade dessas”, afirmou um dos integrantes do grupo, Robson Barreto, que também é
professor de música da Ufba.

A boa música prosseguiu com a cantora Renata Celidônio, que fez um dueto romântico com o cantor Zéu Britto (como muitos outros, ele até recitou uma poesia). Os dois eram atores antes de decidirem ingressar na carreira musical. “Eu trabalhava no Los Catedrasticos. Agora, estou prestes a lançar meu primeiro disco, que sai do forno em agosto. Nele, eu canto a história da sociedade, as loucuras. Coisas loucas é mágicas como realizar um evento desses numa cidade sitiada”, se exalta Zéu.

As duas últimas atrações da “Noite da Poesia” foram as dançarinas Ana Paula Moreira, Taís Lopes e Kênia Sampaio, que praticamente hiptonizaram o público com a coreografia zen “Itsari” (elas estavam lindas com um vestido vermelho bem decotado atrás), e a banda de rap Rap’Ortagem. O Circo fechou a lona pouco depois das 9h, mas já espera a grande atração de amanhã (16/07), a garota má Rebeca Matta.

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