A força criativa das releituras
Luciano Matos


Reescritura, revisão, releitura. Estes foram os temas e tons da segunda edição das Noites Culturais, que levou para o salão nobre da Reitoria da UFBA, ontem à noite, manifestações artísticas tão díspares quanto as meninas da Didá Escola de Música e um concerto de clarineta e piano. Fazendo um contraponto com a ruptura da noite de abertura e com a permanência, que será apresentado amanhã, era a noite de apresentar a releitura como força de criação artística. Mais uma parte do painel da cultura baiana apresentado nas Noites Culturais do SBPC.

O espetáculo “Releitura- A Verdade é uma Só: São Muitas” apresentou diversas expressões artísticas refazendo obras, muitas delas consagradas. Os novos valores e qualidades na refeitura de trabalhos criados em outra época. A imitação soberana, de Brecht. Como disse a teatróloga Cleise Mendes, uma das “âncoras” do espetáculo: “num século saturado de informação, tudo já foi dito, tudo já foi feito, mas nada está pronto”.

Numa metáfora, ela dizia ainda que um dos pratos típicos baianos já tem os ingredientes prontos, mas quem quisesse comer vatapá teria que fazê-lo. Era a dica de como se aproveitam criações já feitas para se transformar em outras. Foi o que fizeram os diversos grupos que passaram pelo salão da reitoria durante quase duas horas de espetáculo. Uma apresentação que, assim como a da noite das rupturas, era preenchida com várias intervenções em diversas linguagens, num apanhado de momentos importantes da cultura baiana.

0Logo de início, interpretação do ator Carlos Petrovich para textos de Antônio Conselheiro. Em seguida, a reitoria foi invadida por várias negras meninas que desfilavam a cultura afro-brasileira em danças e cantos. Eram as meninas da Didá, dirigida pelo maestro Neguinho do Samba, que mostravam a história de Anastácia e Zumbi. Os dois heróis negros eram mostrados como inspiradores de princípios éticos de auto-estima e identidade afro-descendente. Os toques percussivos, as vestimentas e as vozes em coro criaram um momento de intensa emoção.

Durante todo espetáculo, eram relembradas obras em teatro, música, literatura, cinema, televisão, dança que fizeram releituras de outras obras. Como as novelas e séries globais baseadas em histórias de autores baianos, como Jorge Amado. Ou peças teatrais baianas que representaram momentos da história, de Canudos de Antônio Conselheiro a Conspiração dos Alfaiates. Atores, cantores, exibições de vídeo e de fotos, apresentavam obras de Pierre Verger, João Ubaldo Ribeiro, Gregório de Mattos, Shakespeare e tantos outros.

A cantora Andréa Daltro, acompanhada do violão de Carlito Chenaud, recriou “É Doce Morrer no Mar, de Caymmi, e o hino nacional do Brasil. Os músicos Eduardo Torres, piano, e Pedro Robatto, clarineta, fizeram novas leituras de músicas de Ernest Widmer e Lindembergue Cardoso. Além da emocionante apresentação da atriz Yumara Rodrigues, recitando o poema Maria Bonita, de Myriam Fraga, e cantando músicas em homenagem aos cangaceiros Lampião e Maria Bonita.

Acompanhados de sons de bateria e clarineta, e com intervenções da Cia. de Teatro Os Bobos da Corte, textos sobre teoria musical ganhavam uma nova leitura, transformando temas que normalmente seriam considerados monótonos em uma nova atração. Durante todo espetáculo, não faltaram os momentos sarcásticos dos Bobos da Corte, que brincavam com os problemas socias e de segurança social na Bahia. Para finalizaram cantaram uma paródia do Hino Nacional que circulou há algum tempo na Internet. Nela, conhecidas marcas de bebidas, eletrodomésticos, alimentos e produtos diversos, davam uma nova leitura à letra do Hino. As releituras pregando mais uma peça e dando outra cara para uma obra já consagrada, como pregava o evento.

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