Reescritura,
revisão, releitura. Estes foram os temas e tons da segunda
edição das Noites Culturais, que levou para o salão
nobre da Reitoria da UFBA, ontem à noite, manifestações
artísticas tão díspares quanto as meninas da
Didá Escola de Música e um concerto de clarineta e piano.
Fazendo um contraponto com a ruptura da noite de abertura e com a
permanência, que será apresentado amanhã, era
a noite de apresentar a releitura como força de criação
artística. Mais uma parte do painel da cultura baiana apresentado
nas Noites Culturais do SBPC.
O
espetáculo Releitura- A Verdade é uma Só:
São Muitas apresentou diversas expressões artísticas
refazendo obras, muitas delas consagradas. Os novos valores e qualidades
na refeitura de trabalhos criados em outra época. A imitação
soberana, de Brecht. Como disse a teatróloga Cleise Mendes,
uma das âncoras do espetáculo: num
século saturado de informação, tudo já
foi dito, tudo já foi feito, mas nada está pronto.
Numa metáfora,
ela dizia ainda que um dos pratos típicos baianos já
tem os ingredientes prontos, mas quem quisesse comer vatapá
teria que fazê-lo. Era a dica de como se aproveitam criações
já feitas para se transformar em outras. Foi o que fizeram
os diversos grupos que passaram pelo salão da reitoria durante
quase duas horas de espetáculo. Uma apresentação
que, assim como a da noite das rupturas, era preenchida com várias
intervenções em diversas linguagens, num apanhado
de momentos importantes da cultura baiana.
0Logo de início,
interpretação do ator Carlos Petrovich para textos
de Antônio Conselheiro. Em seguida, a reitoria foi invadida
por várias negras meninas que desfilavam a cultura afro-brasileira
em danças e cantos. Eram as meninas da Didá, dirigida
pelo maestro Neguinho do Samba, que mostravam a história
de Anastácia e Zumbi. Os dois heróis negros eram mostrados
como inspiradores de princípios éticos de auto-estima
e identidade afro-descendente. Os toques percussivos, as vestimentas
e as vozes em coro criaram um momento de intensa emoção.
Durante
todo espetáculo, eram relembradas obras em teatro, música,
literatura, cinema, televisão, dança que fizeram releituras
de outras obras. Como as novelas e séries globais baseadas
em histórias de autores baianos, como Jorge Amado. Ou peças
teatrais baianas que representaram momentos da história,
de Canudos de Antônio Conselheiro a Conspiração
dos Alfaiates. Atores, cantores, exibições de vídeo
e de fotos, apresentavam obras de Pierre Verger, João Ubaldo
Ribeiro, Gregório de Mattos, Shakespeare e tantos outros.
A
cantora Andréa Daltro, acompanhada do violão de Carlito
Chenaud, recriou É Doce Morrer no Mar, de Caymmi, e
o hino nacional do Brasil. Os músicos Eduardo Torres, piano,
e Pedro Robatto, clarineta, fizeram novas leituras de músicas
de Ernest Widmer e Lindembergue Cardoso. Além da emocionante
apresentação da atriz Yumara Rodrigues, recitando
o poema Maria Bonita, de Myriam Fraga, e cantando músicas
em homenagem aos cangaceiros Lampião e Maria Bonita.
Acompanhados
de sons de bateria e clarineta, e com intervenções
da Cia. de Teatro Os Bobos da Corte, textos sobre teoria musical
ganhavam uma nova leitura, transformando temas que normalmente seriam
considerados monótonos em uma nova atração.
Durante todo espetáculo, não faltaram os momentos
sarcásticos dos Bobos da Corte, que brincavam com os problemas
socias e de segurança social na Bahia. Para finalizaram cantaram
uma paródia do Hino Nacional que circulou há algum
tempo na Internet. Nela, conhecidas marcas de bebidas, eletrodomésticos,
alimentos e produtos diversos, davam uma nova leitura à letra
do Hino. As releituras pregando mais uma peça e dando outra
cara para uma obra já consagrada, como pregava o evento.
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