O que é
que a Bahia tem? A Bahia tem rock, tem pop, tem street dance, tem
dança do ventre, tem música clássica instrumental,
tem o riso, a fé do sagrado, cânticos e corais, versos,
rimas, abraços. A Bahia não tem apenas o Carnaval,
o axé ou o acarajé, a Bahia é muito mais. Uma
parte desse estado que poucos conhecem, da sua rica cultura diversificada,
dos seus valores poéticos vivos e contemporâneos podem
ser vistos, ouvidos e tocados no Circo Araçá Azul,
invenção baiana, que nesta quarta-feira (18/07) se
despede, numa viagem rumo às profundezas do nosso inconsciente.
O circo já imortalizado pelas memórias da infância.
Ele vai mas volta, nos sonhos de cada um. Passaram por ele e ainda
vão passar grupos teatrais, de dança, artistas quase
consagrados e outros de renome, todos os ritmos de uma Bahia desconhecida
até pelos próprios baianos. Muitas atrações
de qualidade que se apresentaram eu nunca tinha ouvido falar, como
o Tito Bahiense. Daí a importância de um lugar como
este para o crescimento de nossa cultura, reconheceu o estudante
de farmácia da Ufba, Carlos Leal.
Vindos de outros estados, estudantes imaginavam uma Bahia vendida
pela televisão por uma propaganda oficial que poda, ou limita,
o universo cultural baiano. Qual paulista ou mineiro sabia que na
Bahia se fazia rock? Ou rap? Não, baiano só sabe mesmo
é fazer Carnaval, festa de rua por festa de rua. O que havia
para produzir de melhor, já produziu: nomes como Caetano
Veloso e Gilberto Gil. E o que falar de Rebeca Matta, da Banda Simples
RepOrtagem, do loucão Zéu Britto, do American
Bar e da Banda Setembro?
Utopia? Não. A Bahia renasce no Circo para os olhos de quem
quer enxergar. O problema é que a mídia mostra
a bunda da Bahia, e o pessoal vem de fora com a idéia de
que vai dançar o tempo inteiro. Por isso, o falso-forró
armado na barraca lá fora é concorrido. Mas aqui dentro
está a cultura da Bahia que eu não conhecia, com atrações
ótimas. Eu gostei bastante do RepOrtagem, e só
reclamo do pouco tempo que eles tiveram para mostrar seu trabalho,
afirmou a estudante de letras da Universidade de Ibirapuera, em
São Paulo, Esmeralda Cravançola, cujos pais moram
em Salvador há quatro meses.
O charme do circo
Para a professora
Elaine Oliveira, que veio de Recife (PE), a programação
cultural ganha um charme maior pelo fato do palco ser um picadeiro.
Fazia uns 10 anos que eu não ia ao circo. Até
pelo preço, porque está muito caro para levar os filhos.
As recordações são maravilhosas. Muita
gente nem acreditava que o Circo Araçá Azul fosse
de fato um circo, ou seja, uma lona armada com picadeiro e tudo.
Eu nem vi quando acreditei. Os caras armaram mesmo um circo
dentro do Campus, se impressionou o estudante de dança
da Ufba, Bruno Santos, que foi especialmente ver Rebeca Matta.
Em seu livro O Azar do Goleiro (adotado pelo MEC), o
jornalista Elieser César, presente hoje, terça-feira,
no Araçá Azul, reservou um capítulo especial
para a arte circense. Eu fui criado no interior, onde a lona
era daquele tipo tomara que não chova. O circo,
para mim, continua sendo o teatro do povo.
Pouco saudosista, a produtora e diretora do SBPC Cultural, Mércia
Queiroz, tem uma opinião menos melancólica do picadeiro.
Eu continuo indo ao circo, e não tenho saudosismo porque
a arte circense está crescendo cada vez mais, está
se modernizando. Houve momentos em que a arte circense brasileira
era pobre sim, mas hoje ela tomou um outro rumo. O circo é,
ao mesmo tempo em que adota linguagens, também exporta linguagens
para outros meios.
|