Araçá Azul mostra o que a Bahia tem
Alexandre Reis


O que é que a Bahia tem? A Bahia tem rock, tem pop, tem street dance, tem dança do ventre, tem música clássica instrumental, tem o riso, a fé do sagrado, cânticos e corais, versos, rimas, abraços. A Bahia não tem apenas o Carnaval, o axé ou o acarajé, a Bahia é muito mais. Uma parte desse estado que poucos conhecem, da sua rica cultura diversificada, dos seus valores poéticos vivos e contemporâneos podem ser vistos, ouvidos e tocados no Circo Araçá Azul, invenção baiana, que nesta quarta-feira (18/07) se despede, numa viagem rumo às profundezas do nosso inconsciente. O circo já imortalizado pelas memórias da infância.

Ele vai mas volta, nos sonhos de cada um. Passaram por ele e ainda vão passar grupos teatrais, de dança, artistas quase consagrados e outros de renome, todos os ritmos de uma Bahia desconhecida até pelos próprios baianos. “Muitas atrações de qualidade que se apresentaram eu nunca tinha ouvido falar, como o Tito Bahiense. Daí a importância de um lugar como este para o crescimento de nossa cultura”, reconheceu o estudante de farmácia da Ufba, Carlos Leal.

Vindos de outros estados, estudantes imaginavam uma Bahia vendida pela televisão por uma propaganda oficial que poda, ou limita, o universo cultural baiano. Qual paulista ou mineiro sabia que na Bahia se fazia rock? Ou rap? Não, baiano só sabe mesmo é fazer Carnaval, festa de rua por festa de rua. O que havia para produzir de melhor, já produziu: nomes como Caetano Veloso e Gilberto Gil. E o que falar de Rebeca Matta, da Banda Simples Rep’Ortagem, do loucão Zéu Britto, do American Bar e da Banda Setembro?

Utopia? Não. A Bahia renasce no Circo para os olhos de quem quer enxergar. “O problema é que a mídia mostra a bunda da Bahia, e o pessoal vem de fora com a idéia de que vai dançar o tempo inteiro. Por isso, o falso-forró armado na barraca lá fora é concorrido. Mas aqui dentro está a cultura da Bahia que eu não conhecia, com atrações ótimas. Eu gostei bastante do Rep’Ortagem, e só reclamo do pouco tempo que eles tiveram para mostrar seu trabalho”, afirmou a estudante de letras da Universidade de Ibirapuera, em São Paulo, Esmeralda Cravançola, cujos pais moram em Salvador há quatro meses.


O charme do circo

Para a professora Elaine Oliveira, que veio de Recife (PE), a programação cultural ganha um charme maior pelo fato do palco ser um picadeiro. “Fazia uns 10 anos que eu não ia ao circo. Até pelo preço, porque está muito caro para levar os filhos. As recordações são maravilhosas”. Muita gente nem acreditava que o Circo Araçá Azul fosse de fato um circo, ou seja, uma lona armada com picadeiro e tudo. “Eu nem vi quando acreditei. Os caras armaram mesmo um circo dentro do Campus”, se impressionou o estudante de dança da Ufba, Bruno Santos, que foi especialmente ver Rebeca Matta.

Em seu livro “O Azar do Goleiro” (adotado pelo MEC), o jornalista Elieser César, presente hoje, terça-feira, no Araçá Azul, reservou um capítulo especial para a arte circense. “Eu fui criado no interior, onde a lona era daquele tipo ‘tomara que não chova’. O circo, para mim, continua sendo o teatro do povo”.

Pouco saudosista, a produtora e diretora do SBPC Cultural, Mércia Queiroz, tem uma opinião menos melancólica do picadeiro. “Eu continuo indo ao circo, e não tenho saudosismo porque a arte circense está crescendo cada vez mais, está se modernizando. Houve momentos em que a arte circense brasileira era pobre sim, mas hoje ela tomou um outro rumo. O circo é, ao mesmo tempo em que adota linguagens, também exporta linguagens para outros meios”.

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