O
visual de Rebeca Matta, 34 anos, não é mais tão
assustador para os seus pais. De tão conservadores, eles
impediam que aquela menina apaixonada por música desde criança
se livrasse de vez das arestas e ganhasse o mundo. Tintura no cabelo,
sombras exageradas no rosto, piercing na altura das sombrancelhas,
pentiado estilo rasta. É, quando menos esperavam, a menina
boazinha virou dona do próprio destino, foi à luta,
e já tem dois discos no mercado: duas mil cópias do
independente Tantas caras e o mais recente, Garotas
boas vão para o céu, garotas más vão
para qualquer lugar , gravado pela Lua Discos. Com o som mais
pesado do segundo CD, ela foi a atração principal
desta terça-feira da Noite do Movimento, do Circo
Araçá Azul.
Rebeca,
nascida em Salvador, deixou muita gente no ar. Eu não
sabia que na Bahia havia um rock tão bom, disse o estudante
de comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Léo Fausto. Sempre com um sorriso de criança na ponta
dos lábios, a boa garota má estava feliz. Me
falaram para eu tocar apenas quatro músicas, mas se deixarem
toco o CD inteiro, afirmou. Pena que não permitiram,
para a queixa do público em geral.
Antes de se decidir pela carreira musical, Rebeca chegou a trabalhar
no Tribunal de Contas da Bahia. Formada em administração
pela Universidade Católica de Salvador, assegura que nunca
fez o tipo rebelde em família. Talvez eu até
quisesse ser, mas meu pais não deixavam. Hoje, eu expresso
o que sinto, sem preconceitos. E expressa através da
música, sempre com uma visão feminina de vida, mais
uma entre milhões de outras visões de vida.
Por isso, metade do seu novo disco é autoral, e a outra metade
é mais ligada às canções de que ela
gosta. Nos meus dois discos gravei Tom Zé, porque adoro
o Tom Zé. Na minha música tem de tudo: rock, pop,
coisas regionais e muita coisa eletrônica.
Reconhecida
fora da Bahia, a cantora foi eleita pela APCA (Associação
Paulista de Críticos de Arte) a artista revelação
do país em 1999. Foi um prêmio importante para
mim. Sempre recebi boas críticas. É legal também
porque a crítica do sul passa a ver que a Bahia não
é só aquilo que a propaganda do turismo local faz
questão de passar. Não temos apenas o Carnaval. Veja
exemplos como a Penélope, grupo com quem me dou muito bem.
Para
Rebeca, um dos segredos do sucesso é fazer aquilo que gosta
sem receio. Não me preocupo em ter um estilo, não
me prendo a nada disso. Eu tenho sim são afetos. Claro que
sigo uma linha rock, mas também ouço muito música
eletrônica, muito hip hop. Eu sempre digo que a gente tem
de fazer o que tiver com vontade, mesmo se as pessoas estiverem
falando demais. Eu não sou uma garota má, eu apenas
vou a luta. Esse é o meu conselho.
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