Rebeca Matta vai à luta, não ao céu
Alexandre Reis


O visual de Rebeca Matta, 34 anos, não é mais tão assustador para os seus pais. De tão conservadores, eles impediam que aquela menina apaixonada por música desde criança se livrasse de vez das arestas e ganhasse o mundo. Tintura no cabelo, sombras exageradas no rosto, piercing na altura das sombrancelhas, pentiado estilo rasta. É, quando menos esperavam, a menina boazinha virou dona do próprio destino, foi à luta, e já tem dois discos no mercado: duas mil cópias do independente “Tantas caras” e o mais recente, “Garotas boas vão para o céu, garotas más vão para qualquer lugar “, gravado pela Lua Discos. Com o som mais pesado do segundo CD, ela foi a atração principal desta terça-feira da “Noite do Movimento”, do Circo Araçá Azul.

Rebeca, nascida em Salvador, deixou muita gente no ar. “Eu não sabia que na Bahia havia um rock tão bom”, disse o estudante de comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Léo Fausto. Sempre com um sorriso de criança na ponta dos lábios, a boa garota má estava feliz. “Me falaram para eu tocar apenas quatro músicas, mas se deixarem toco o CD inteiro”, afirmou. Pena que não permitiram, para a queixa do público em geral.



Antes de se decidir pela carreira musical, Rebeca chegou a trabalhar no Tribunal de Contas da Bahia. Formada em administração pela Universidade Católica de Salvador, assegura que nunca fez o tipo rebelde em família. “Talvez eu até quisesse ser, mas meu pais não deixavam. Hoje, eu expresso o que sinto, sem preconceitos”. E expressa através da música, sempre com uma visão feminina de vida, “mais uma entre milhões de outras visões de vida”. Por isso, metade do seu novo disco é autoral, e a outra metade é mais ligada às canções de que ela gosta. “Nos meus dois discos gravei Tom Zé, porque adoro o Tom Zé. Na minha música tem de tudo: rock, pop, coisas regionais e muita coisa eletrônica”.



Reconhecida fora da Bahia, a cantora foi eleita pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) a artista revelação do país em 1999. “Foi um prêmio importante para mim. Sempre recebi boas críticas. É legal também porque a crítica do sul passa a ver que a Bahia não é só aquilo que a propaganda do turismo local faz questão de passar. Não temos apenas o Carnaval. Veja exemplos como a Penélope, grupo com quem me dou muito bem”.

Para Rebeca, um dos segredos do sucesso é fazer aquilo que gosta sem receio. “Não me preocupo em ter um estilo, não me prendo a nada disso. Eu tenho sim são afetos. Claro que sigo uma linha rock, mas também ouço muito música eletrônica, muito hip hop. Eu sempre digo que a gente tem de fazer o que tiver com vontade, mesmo se as pessoas estiverem falando demais. Eu não sou uma garota má, eu apenas vou a luta. Esse é o meu conselho”.

 

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