Com o estouro
dos fogos de artifício, o Dragão saiu da toca para
abrir a festa sertaneja no cortejo da SBPC. Atrás da fera,
o grupo folclórico Zambiapunga e a quadrilha Forró
Sanfonado ditavam o ritmo e os paços da multidão.
O idealizador deu nota dez. "Hoje conseguimos a maior coerência
musical, rítmica e visual" avaliou contente Luiz Marfuz.
Quem estava dentro, se sacudiu, e os de fora correram pra reviver
o clima de São João.
Os "homens de tocha" estavam vestidos de cangaceiros.
Eles abriram alas para o Dragão passar e encontrar com os
espectadores do Palco Maracangalha, que, por sinal, dispensaram
anúncios da animadora Najla Andrade hoje de Maria
Bonita para a chegada da fera. Parte do público que
assistiu o Zambiapunga, já esperava em frente à toca
batendo palmas e dançando no ritmo do grupo folclórico.
No ponto certo para encontrar com o Dragão e cair na folia.
O estudante Jorge Araújo somou aos adereços do cortejo
sua sombrinha de frevo toda colorida. Ele disse que está
achando a programação muito bonita e que usa o que
trouxe de sua cidade, Recife, como uma fantasia pra entrar na festa.
E lá ia aos pinotes, Jorge Araújo, feliz da vida.
Não demorou muito pra surgir um grupo que também se
incrementou para o percurso, só que dessa vez, digamos, de
forma mais "escorregadia". Cinco rapazes de Natal-RN melaram
todo o corpo de uma lama negra, trouxeram um tridente "diabólico",
um balde e uma faixa: "ABRACE UM CÃO E GANHE UM ABADÁ".
Apesar de o Mini-trio dizer que os moços eram "Cheios
de Charme", os capichabas tiveram que sair procurando por um
abraço. Não se teve notícia de nenhuma vítima,
só da algazarra.
Os artistas em pernas-de-pau vieram um de noivo, outro de padre
e outra de noiva. O clérigo fazia da água benta bolinhas
de sabão, enquanto o noivo junto com sua prometida
de trancinhas, véu e grinalda estimulavam aqueles
desanimados ou desavisados das redondezas a que acompanhassem a
multidão do cortejo. O clima de casório fez muita
gente dançar agarradinho. O professor de engenharia, Mário
Gonçalves, por exemplo, aproveitou que a filha Juliana de
5 anos se distraía com as coreografias do Dragão,
para forrozear com a esposa.
O repertório do Mitrio-Trio, perfeitamente adequado ao tema
sertanejo, tocou clássicos como Asa Branca, Paraíba
Masculina, Escravos de Jó e também inventou melodias
com saudações a Lampeão e até para avisos
de crianças à procura dos pais, tudo sem perder o
ritmo. O público não fez por menos. Improvisou quadrilhas,
abriu rodas em cada turma, marcou o chote com as palmas e era possível
perceber a massa cantando em coro quando o vocalista do Mini-Trio
ralentava
a canção.
"O que eu acho é que isso deveria acontecer mais vezes"
deixou claro o estudante da Faculdade de Música na UFBA,
Denis Leoni que participou pela segunda vez do cortejo do Dragão.
Para Leoni, a situação tensa da cidade, com as polícias
há quase 15 dias em greve, traz para a SBPC um clima de refúgio
em que "todos querem se dar bem uns com os outros, porque lá
fora está o terror" declarou o estudante de quem o preferido
é o pessoal de Minas Gerais.
Hoje pôde se perceber a função de integração
que tem o Cortejo do Dragão. Além de trazer o público
do Palco Maracangalha no PAF I até o Circo Araça Azul
na entrada do Campus, o percurso tem sido aproveitado para a integração
entre os grupos de diversos cantos do país. Do Mini-trio
são citadas as turmas mais animadas, que em resposta criam
refrões e coreografias de identificação. O
pessoal de Fortaleza criou o seu. O da Paraíba abriu rodas
e inventou evoluções pra dançar. Até
os times de futebol do Sul do país são lembrados para
receber o "viva!" dos torcedores de lá. O prefeito
de Recife nem se fala, dentre os mais de 2000 que mandou pra cá,
sempre tem alguém pedindo pra lembrar dele. E com razão.
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