Circo anuncia fim de festa


Foi muito bom enquanto durou. Difícil encontrar alguém que goste de despedidas, por isso o clima de alegria se misturou ao de nostalgia hoje (18/07), no último dia de programações do SBPC Cultural. Agora, é desarmar a lona, arrumar as tralhas, desafogar o tráfego. O Circo Araçá Azul vai morar, por fim, nas lembranças de cada um. O picadeiro abrigou um pouco da cultura baiana, se fez cenário de paixões geograficamente imperfeitas, e terminou ao som do Olodum.

 

 


O picadeiro também foi o palco da morte e do renascimento do Dragão, que cortejou o profano um dia após beliscar o sagrado. “Eu gostei mais do profano. Sou profana por natureza, detesto ser santinha”, disse a estudante de letras da Ufmg, Sandra Freitas. “Acho que tem que haver um limite entre o profano e o sagrado. É como os romances do Nelson Rogrigues: a gente nunca sabe se o cara é o mocinho, o bandido, o galã ou o sacana da história toda”, rebateu a estudante de psicologia da Ufba, Aline Souza.

Tanta miscelânea vai deixar saudades. Em que outro lugar do planeta poderíamos ouvir música eletrônica e o batuque do Olodum no mesmo palco? No Circo, que apresentou hoje “A Noite da Celebração”. Dessa vez, não foi o Dragão quem carregou a multidão até a lona, mas sim o som do grupo afro baiano, numa noite fria e, pela primeira vez, com ônibus nas ruas.

Para deixar o público a vontade, as arquibancadas frontais do Circo foram desmontadas. A primeira atração da noite, após a canja inicial do Olodum, mostrou tendências da moda. Cabelos afros de todo tipo, gente vestida de tampinha de garrafa e de lixo reciclável (até vestido de noiva) desfilaram na passarela do picadeiro, com destaque para o sutiã de metal com buracos generoso, obra do estilista Joel Conceição, o dono da grife “Moda em metais”. “Eu faço blusão, chapéu, bolsa, cinto, vestido e sutiã, e já vendi 18 peças à Orquestra Baiana do Pelourinho”, contou o criador. Os modelos desfilaram ao som eletrônico do grupo Pragatecno.

As luzes voltaram-se, depois disso, para a performance do grupo Viladança, do Teatro Vila Velha. Eles mostraram duas coreografias (“Exposição sumária” e “Viva.com.Br”) e uma improvisação com o Pragatecno. A platéia ficou emocionada principalmente com a segunda apresentação, quando uma dançarina, ao som do hino nacional, é enfaixada enquanto tenta se movimentar. “A coreografia significa a nossa impotência diante da própria vida a gente”, explicou a coreógrafa Cristina Castro.

 

 

 

A cantora Manuela Santiago, que tem dez anos de estrada, subiu ao picadeiro para executar uma canção, também ao som dos DJs da Pragatecno. Ela cantou “Amo Zona”, de autoria sua em parceria de Pascal Heranvaz, música que estará no seu primeiro disco, a ser lançado até o final do ano. “Eu comecei cantando jazz, mas agora o que faço é uma mistura de afro baiano, jazz e eletrônica”, definiu Manuela, que é muito amiga de Rebeca Matta, presente para conferir o último dia do Circo.

O Olodum encerrou a noite, cheia de estudantes vindos de fora do país, mais do que nos dias circenses anteriores. O tradicional grupo tocou músicas antigas, conhecidas de todos, e trabalhos novos. Foi uma festa regada a barulho, Carnaval e, claro, muita saudades... o Circo se foi!

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