Prof. Dr. Paulo Costa Lima

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Prof. Dr. Paulo Costa Lima
Coordenador da SBPC Cultural
Pró-Reitor de Extensão da UFBA
Compositor e teórico


Auto-Entrevista

Por que conectar a programação cultural a uma discussão?

Fiz essa proposta por várias razões. Num evento de porte acadêmico como a Reunião Anual da SBPC a programação artística precisa contribuir para a espinha dorsal da empreitada. O desafio não é simplesmente colorir o final do dia com alguma catarse, ou mesmo com a revelação de matizes regionais, e sim, fazer tudo isso, matizes e catarse, numa vinculação a mais estreita possível com o coração epistemológico do evento. Nós artistas, já aprendemos que as investidas racionais não tiram o brilho ou o espaço da intuição. A incomensurabilidade intuitiva habita tanto o espaço da ciência quanto o da arte, ou seja, discurso e intuição saem ganhando quando surgem situações de confronto e de negociação entre ambos...

E por que identidade cultural?

Primeiro, pela estreita associação com o tema da diversidade nacional (entenda-se como adjetivo relativo a nação). Algo que remete a uma ecologia dos nichos culturais. Essa associação entre biodiversidade e diversidade cultural é cada vez mais freqüente.

Pretendemos estimular a visão de que uma discussão sobre identidade cultural — tomando a Bahia como foco —, irá na direção dos inúmeros aspectos de intertextualidade que nos constituem. A Bahia é, sem dúvida alguma, uma criação coletiva, um intertexto, e a ocasião é propícia para aprofundarmos que espécie de "umbigo" é esse, até pela idéia homogeneizada e distorcida que o tema recebe na mídia.

Além disso, os avanços (e retrocessos) produzidos pela nossa discussão/programação poderão ser pensados como um modelo aplicável a vários outros contextos no Brasil.

Outra razão: há grupos de pesquisa locais, de qualidade indiscutível, voltados para o tema, e uma produção a eles associada que pode utilizar a oportunidade para se fazer presente de forma integrada e dialogante, como soe acontecer ...

Mais outra: as oportunidades de buscar uma fala articulada sobre produtos artísticos são pouco freqüentes. O tema da identidade cultural perfila criadores e teorizadores. Como se comportam os criadores? Minha proposta lança um convite direto aos diversos modos de criação que caracterizam a Bahia hoje. Como falam os criadores de suas criações, e dos contextos que as propiciam?

P- E sobre identidade?

R- Ser igual a si mesmo envolve muito trabalho, significa sobreviver como identidade a uma série incomensurável de transformações existentes entre quaisquer dois momentos distintos de uma existência. Não significa existir num vazio, ou seja, neste universo, não há estabilidade de ser, garantida para ninguém. Me parece que Paul Ricouer nomeia essa dualidade interna como identidade e ipseidade, uma fricção, um paradoxo permanente. Portanto, para que algo permaneça como si mesmo, é preciso que mude continuamente e que absorva essas mudanças. A análise cultural segue rumo semelhante. A identidade de uma cultura ou segmento cultural é análoga a um processo, uma curva, um vai e vem estatístico, o que se queira. Identidade significa ser e vir a ser, ser e desejar ser, ser e não saber o que se é. Miasmas psicanalíticos a parte, a identidade é sempre uma prospecção. O que é a Bahia, que não se sabe de si mesma? Ocupo uma perspectiva especial, a de ver uma Bahia da erudição musical, tão afogada nesses dias.


 

 

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